Por: Marcio Nolasco - Analista de Políticas Públicas
Como surgiram as forças políticas brasileiras ao longo da história e por que 2022 pode não ser uma 'polarização' - Ganha Bolsonaro, ganha Lula e só quem perde é o povo...

A palavra “centro” dominou as discussões políticas em 2020, desde a anulação de três processos do ex-presidente Lula pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin. Críticos do petista disseram que, com o seu regresso à política, Jair Bolsonaro ficaria mais forte e ambos formariam uma polarização entre dois extremos, deixando o centro de fora.
Essa afirmação recebeu críticas de defensores do ex-presidente e de uma série de analistas da política brasileira que afirmaram que o PT não poderia ser excluído do centro e que não há equivalência, ainda que em campos opostos, entre o ex-presidente e o presidente Jair Bolsonaro.
Mas, afinal, o que vem a ser direita, esquerda e centro? Como isso é determinado? Centro e Centrão são a mesma coisa? Como se formou o atual sistema partidário do Brasil?
Direita e esquerda
A divisão que adotamos hoje em toda a política do Ocidente nasceu, na verdade, a partir da Revolução Francesa (1789). Na época da Assembleia Nacional Constituinte (1789-91), os os grupos conservadores e moderados – membros da aristocracia e do clero, que apoiavam o rei Luís XVI – ocupavam o lado direito, enquanto grupos mais radicais, vindos de camadas da burguesia (alta, média e baixa), ocupavam o lado esquerdo do plenário.
Essa distinção manteve-se com a criação da Assembleia Legislativa (1791-92). Nela, os girondinos, representantes da alta burguesia com ligações com os aristocratas, ocupavam o lado direito e defendiam políticas moderadas e conciliadoras em relação à monarquia. Já os jacobinos (ou “montanheses”), vindo de setores médios e baixos da burguesia, defendiam os ideais revolucionários de 1789 e o rompimento com a monarquia. As disputas no período revolucionário francês davam-se entre o Estado Absolutista (Antigo Regime) e novas formas históricas, como a república e a monarquia constitucional, ambas inspiradas nas ideias iluministas que começam a surgir a partir do século 16.
Essa distinção foi se reacomodando ao longo dos séculos 19 e 20, conforme os países foram se industrializando e surgiram novas ideias políticas, como o socialismo, o comunismo e a socialdemocracia. As disputas deixam de se dar entre a realeza absolutista e a classe emergente – a burguesia – e passam a ocorrer entre essa nova classe dominante (a burguesia) e os trabalhadores.
Extrema direita e extrema esquerda
Partidos e políticos de extrema direita e de extrema esquerda não devem ser confundidos necessariamente com partidos que tenham uma agenda radical, mas, sim, que pretendem criar uma nova ordem – em geral de caráter autoritário e ditatorial –, substituindo a ordem democrática vigente. Questionar a confiabilidade do processo eleitoral e a relação com outros Poderes constituídos são sinais do extremismo. É por isso que se deve tomar cuidado com paralelos entre líderes e partidos democráticos tradicionais e líderes e partidos contrários a esta ordem. É o caso, por exemplo, do nazifascismo europeu, que se opunha tanto à democracia liberal quanto ao socialismo, duas filosofias e regimes que nasceram do iluminismo, para restaurar uma ordem pré-iluminista, de caráter imperial.
Direita e esquerda no Brasil
Embora o Partido Comunista Brasil (PCB) date de 1922, não é possível falar em direita e esquerda no Brasil até o Período Democrático (1946-1964). Tanto no Segundo Império (1940-1889) quanto na Primeira República (1889-1930), as disputas político-partidária se davam apenas entre frações das elites da época. Com o fim da Era Vargas (1930-45), o pluripartidarismo é restaurado no Brasil e nosso sistema político estrutura-se entre o Partido Trabalhista Brasileiro, representando uma esquerda nacionalista e moderada; a União Democrática Nacional (UDN), à direita; e o Partido Social Democrático (PSD), que oscila entre os dois polos. Há ainda outros partidos como o PCB, que fora colocado na clandestinidade em 1947, e o Partido Socialista Brasileiro (PSB). Com o fim do Período Democrático e a instauração da ditadura civil-militar (1964-85), o pluripartidarismo é proibido e o sistema partidário brasileiro se reestrutura entre dois partidos: a Aliança Renovadora Nacional (Arena) e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB).
Quando surgem os partidos atuais?
Em novembro de 1979, foi aprovada no Congresso Nacional a Lei Orgânica dos Partidos, que extinguia o bipartidarismo e permitia a volta do pluripartidarismo no Brasil. Nessa época, começava a ter início o chamado período de “abertura democrática” no Brasil, com o fim do AI-5 (1968-78) e a Lei de Anistia, promulgada em agosto de 1979.
Assim, a Arena desmembra-se em uma série de partidos, como o PDS, que daria origem ao PFL (hoje DEM). O MDB se tornaria o PMDB (desde 2017 voltou a ser MDB). Dele, nasceria o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). O PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) e o PSB (Partido Socialista Brasileiro) foram recriados no período. Surgiram, ainda, outras legendas, como o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Democrático Trabalhista (PDT).
Para quem estuda, ou estudou a história política do Brasil, indubitavelmente sabe que entra ano e sai ano e só quem ganha com política são os políticos, o povo sempre em segundo plano, só sendo procurado em tempos de eleição, e agora na atualidade é uma verdadeira insanidade pessoas iletradas politicamente se acharem mestrados nos assuntos políticos, fazendo comentários mais insanos ainda na sombra das redes sociais, fora e falta de caráter de quem um dia era da esquerda, mudou para direita, novamente mudou para esquerda e tudo isso por conta de uns miseráveis trocados para dar apoio à esse ou aquela candidato...
Realmente no Brasil, a politica não é para iletrados ou para os "mestres das redes".
Se me perguntarem, ou tiverem curiosidade de saber meu voto para esse pleito, para Presidente da República votarei em uma mulher... não voto em ex-presidiário muito menos em Imbrochável!
O que é centro?
Em geral, partidos de centro são aqueles que adotam uma postura moderada diante de questões que dividem o país. Partidos de centro podem, por exemplo, buscar equilíbrio entre o Estado e o mercado na economia.
Determinar, porém, quais partidos são de direita, centro e esquerda não é tão simples quanto parece. Partidos podem considerar-se de determinado espectro político e depois irem para outro campo, seja no discurso ou na adoção de um novo programa. E mesmo cientistas políticos podem divergir a respeito da posição de cada partido no campo político, a partir da metodologia de análise utilizada.
No caso brasileiro, é importante compreender um particular: com o final da ditadura civil-militar e a crise gerada por ela, nenhum partido brasileiro identificava-se como “direita”, preferindo afirmar-se como “centro”. Isso perdurou até os anos 2010, quando começou a surgir uma nova direita no país que não tinha mais o constrangimento de afirmar-se como “direita” e, em alguns casos mais radicais, não se constrangia em defender a ditadura. É importante ter clareza de que ser de direita não significa ser defensor da ditadura. A direita e a esquerda fazem parte da vida de qualquer democracia.
De onde vem o “Centrão”?
O chamado “Centrão” surgiu na época da Assembleia Nacional Constituinte (1897-88), que visava criar uma nova Constituição para o Brasil depois do regime ditatorial. O termo foi criado para designar deputados e partidos que procuravam impor vetos a propostas mais progressistas da Carta de 1988. Com o tempo, passou a ser usado para denominar um grupo de partidos que “vende” apoio a governantes – presidentes, governadores e, em menor grau, prefeitos – de qualquer matriz ideológica em troca de cargos, verbas e capacidade de influir em determinadas agendas. Essa troca de apoio pode levar a casos de corrupção, mas não deve ser entendida, necessariamente, como um ato de corrupção. Governos necessitam de apoio no Congresso Nacional, câmaras e assembleias e a distribuição de cargos e verbas como as emendas parlamentares são instrumentos legítimos para tanto.
Qual a diferença entre centro e Centrão?
Centro, como dissemos, é um termo utilizado para designar partidos moderados, embora o termo divida cientistas políticos. Já “Centrão” é uma terminologia para designar um determinado conjunto de partidos que age em bloco no Congresso Nacional para vender apoio ao governo federal.
Por que o Brasil tem tantos partidos?
É importante ter claro que um alto número de partidos não é um problema em si. O problema, no caso brasileiro, é que há muitos partidos que acabam tendo pouca representação ideológica ou em relação a setores da sociedade. Outro problema é que, no Brasil, é mais difícil criar um partido do que ter acesso ao Poder Legislativo e ao Fundo Partidário, e do tempo de TV. Em 2022, esse coeficiente subirá para 2%. Partidos que não atingirem esse percentual de votos válidos ficarão de fora do fundo e do tempo de TV a partir de 2027, o que deve levar a uma série de fusões.
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