Por: Walber Guimarães Junior, engenheiro e diretor da CIA FM.
Todos já sabem que nenhum executivo gosta de gastar dinheiro em prevenção por razões eleitorais, fator que se soma às mudanças climáticas para deixar muito preocupados a parcela de brasileiros que sabe que a sociedade terá que exigir mais responsabilidade nestas questões.

Podemos até afirmar que Porto Alegre está longe de ser a capital crítica neste aspecto. Se a tragédia fosse na capital baiana, as vítimas se contariam em milhares e os desabrigados em centenas de milhares, tudo isto porque quase 45% das habitações estão em área de risco e isto s repete em muitas áreas, algumas sempre críticas como a baixada e a serra fluminense.
Não há mais negacionismo que enfrente os fatos; a mudança climática é irreversível e nos compete trabalhar para minimizar os riscos e isto pode exigir até mesmo deslocamento de área urbana de algumas cidades vítimas de tragédias similares. Mas realmente o que importa é revisar procedimentos de cidades comuns, onde ainda não se avista situação limite.
A crescente urbanização de todas as regiões do país, processo iniciado na década de 50 e acelerado por várias décadas seguintes significou o atropelo de quaisquer cuidados com fatores de risco. Em quase todas as cidades brasileiras transgressões como construções em encostas, aterros ou áreas de riso sempre foram toleradas, algumas vezes consentidas e, acredite, até executadas com placa de financiamento público.
Acredito que não vou falar nenhuma novidade ao afirmar que aprovação de loteamento de “amigos do rei”, em praticamente todas as cidades do país se faz ao arrepio da lei, apesar do recrudescimento e aumento da fiscalização, fato recente e elogiável. Todavia, afirmo com segurança que loteamento desovando esgoto e drenagem indevidamente em fundos de vale e áreas de risco são extremamente comuns.
Por que isto é possível? Simplesmente porque campanhas custam caro e empreiteiras são ótimas financiadoras de caixa dois dos políticos, logo a sociedade precisa atentar para estes fatos e exigir que se faça uma ampla revisão destas questões antes que os efeitos nefastos se consolidem.
Não resta dúvida que estes investimentos, nas cidades de risco, precisam ser formalizados por lei, por planos responsáveis de médio prazo e por imposição de procedimentos ainda mais rígidos que resultem em segurança para a população.
Ano de eleições municipais é sempre o momento ideal para que se implemente o debate e que resulte em comprometimento dos próximos gestores com esta questão.
É muito triste chorar pelas mortes e pela destruição no Sul, talvez isto seja razão suficiente para que os esforços principais não sejam dos voluntários para amenizar a dor, mas dos governos para evitá-las.
Pense nisto. Coloque na sua agenda eleitoral e exija que isto seja pautado no debate na tua cidade.
Melhor cuidar na hora certa! Já passou da hora de nos emocionarmos com a tragédia da vez e se omitir da cobrança porque a próxima pode ser pior.
Comments