O abuso sexual dentro do contexto familiar é uma violação dos princípios de dignidade, respeito e amor que são fundamentais para a convivência humana e um flagelo quando pensamos que isso é perpetuado em muitas famílias, em igrejas e em locais onde estas crianças, adolescentes e mulheres deveriam sentir-se protegidas. Esse abuso é uma agressão direcionada a uma pessoa, geralmente alguém desprotegido que não sabe se defender, não consegue compreender como sair da situação ou que confia naquele que dela abusou.
A Bíblia não esconde a maldade do nosso coração como humanos e nos dá exemplos de como pessoas vulneráveis foram abusadas e dominadas. Um exemplo disso é a história de Tamar, filha de Davi, que foi abusada por seu meio-irmão Amnon (2 Samuel 13:1-22). Tamar era jovem e vulnerável, e Amnon usou seu poder e posição para enganá-la e abusar dela. Mesmo com Tamar resistindo, Amnon a forçou sexualmente e depois a desprezou, expulsando-a de sua casa.
Lendo o relato sobre Davi e seus filhos, conseguimos entender a falha grave que houve a partir da negligência educacional e espiritual desses filhos – Amnon se tornou alguém que abusa da irmã e seu irmão, Absalão, além de se tornar um assassino do seu próprio irmão, também abusa das esposas de Davi em público para que toda a cidade visse o acontecido. Amnon acaba sendo assassinado e Absalão também. A responsabilidade familiar que temos com nossos filhos e filhas é grande demais. Esse processo todo, da formação do caráter, passa não somente em “levá-los para a Igreja”, mas está ligado principalmente à maneira como somos (nosso comportamento e motivações do coração) com eles, com as pessoas, conosco e com Deus, pois, isso é motivador para a formação de caráter de nossos filhos. Somos responsáveis por educar as crianças para que sejam pessoas que tanto não tolerem o abuso e denunciem, mas também para que não sejam abusadores.
Em Gênesis 4:7, lemos: "O pecado está na porta, à sua espera. Ele quer dominá-lo, mas você precisa vencê-lo." Este versículo, parte da história de Caim, mostra que o pecado está sempre à espreita, esperando uma oportunidade para agir. Isso nos revela que o coração da pessoa que comete um abuso como o de Amnon está infectado, sua mente está cheia de pecado, e tanto seus atos quanto sua falta de arrependimento refletem o estado de podridão de sua alma.
Provérbios 4:23 diz: "Acima de tudo, guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida." Quando pensamos no abuso sexual, vemos que os abusadores não preservaram seus corações, justamente porque há uma retroalimentação do pecado, em várias áreas, que afetam o caráter, a personalidade e as intenções da pessoa. O pecado infecta todo o nosso ser, todos os nossos pensamentos, todas as ações ficam manchadas e se não formos a todo instante à Cristo, incorporando seu perdão e mudando de rota, nosso corpo, nossa mente, nosso coração e alma estarão encharcados de maldade, pecado e morte. No abuso, os atos não são cometidos apenas por "cair em tentação" (infelizmente há muitos que culpam as vítimas como pessoas sedutoras e que se não tivessem se exposto não seriam abusadas), mas por uma vida imersa no pecado. Provérbios 6:18 fala sobre os "corações que traçam planos perversos e pés que se apressam para fazer o mal", refletindo a natureza dos abusadores.
Nossa cultura não ajuda em nada nessa questão, ao contrário, transmite ensinamentos os mais diversos sobre a inferiorização da mulher, a banalidade de abuso infantil e o desprezo para com as vítimas.
A cultura sexista, machista e misógina é um problema profundamente enraizado em muitas sociedades ao redor do mundo e a nossa, brasileira, não é diferente. Essa cultura perpetua a visão das mulheres como objetos sexuais, desvalorizando-as e desumanizando-as. As mulheres são frequentemente retratadas na mídia e publicidade como objetos de desejo sexual, muitas vezes em contextos que nada têm a ver com o produto ou serviço sendo promovido.
A exposição constante a conteúdos que sexualizam crianças e adolescentes, seja na mídia, na internet ou em outros contextos, pode dessensibilizar a sociedade em relação à gravidade dessas ações. Em muitas culturas, o incesto e o abuso sexual de menores são acobertados por uma cultura de silêncio e vergonha, onde as vítimas são desencorajadas a falar. As mulheres e meninas frequentemente são culpadas por agressões sexuais com base em suas roupas ou comportamentos, perpetuando a ideia de que são responsáveis pelo assédio ou abuso que sofrem, como se as vítimas fossem culpadas por "provocar" o assédio ou o abuso sexual.
Minha esposa (Auriciene Lidório), que também é colunista aqui no site, é psicóloga com uma abordagem Psicanalítica Winnicottiana e ela fala constantemente sobre um lema da sua Clínica (e da sua abordagem de atendimento): “Tudo começa em casa” (é uma fala de Donald Winnicott, pediatra e psicanalista que aborda muito sobre esse ambiente facilitador que deve ser a família para a formação e o desenvolvimento das pessoas. Ela inclusive tem um curso que fala sobre isso: Tudo começar em casa – foco na família – clique aqui para acessar este curso se quiser comprá-lo.
No próximo artigo falaremos mais sobre a questão de como a Bíblia trata desse tema de abuso sexual. Nos encontramos lá.
Oro para que o Senhor nos ajude em um tema tão terrível.
Recomendo a leitura dos livros abaixo:
Leia também: Artigo da minha esposa, falando do ponto de vista psicológico sobre o tema do Abuso Sexual Infantil - clique aqui.
Pr. Gedeon Lidório
Instagram: @gedeonlidorio
E-mail: gedeon@lidorio.com.br
Site: www.teoeduca.com.br
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