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Foto do escritorCélio Juvenal Costa

A ASSIM CHAMADA SOCIEDADE PÓS-MODERNA

Me lembrei de um texto do jornalista Duda Rangel, escrito em 2012, o qual tomo a liberdade de transcrever um trecho, pois o considero ainda atual: 


"O homem pós-moderno já não se pergunta tanto se há vida após a morte. As grandes questões mudaram. Hoje, uma das principais dúvidas de muitas pessoas é: 'compro pão integral de 10 grãos ou de 12 grãos?', diz o psiquiatra Ricardo Semolina, do Hospital das Clínicas de São Paulo. 'A busca pelo bem-estar físico, em alguns casos, pode afetar a saúde mental.' Um de seus pacientes, que não teve o nome revelado, desenvolveu um grande transtorno após viver o dilema entre uma versão do pão com semente de girassol e quinoa e outra com amaranto e linhaça dourada. O terapeuta holístico Ado Santi concorda: 'Em tempos de gordura trans zero, ninguém mais questiona se Deus existe. As pessoas estão mais preocupadas em saber se é melhor tomar café com aspartame, sacarina ou sacralose', afirma. Há muitas outras perguntas ainda sem resposta, ressalta Santi, como 'ser vegetariano ou não ser?' e 'o ômega 3 traz a felicidade?'”

 


 

Refletir sobre essas coisas é refletir, obviamente, sobre a nossa realidade, que alguns dizem ser cada vez mais pós-moderna. E, de início, quero tentar evitar o que é muito comum quando alguém de uma geração passada, como eu, quer avaliar algo que tem muito a ver com a geração atual: achar que o mundo está perdido... Até porque, o comportamento dito pós-moderno está se reificando também em parcelas da minha geração.

 

Bem, porque as pessoas estão cada vez mais preocupadas com o seu bem-estar individual, chegando, por exemplo, a neuroses como as descritas acima? Creio que vivemos uma época em que a existência precede a essência, ou seja, viver (de preferência intensamente) é mais valorizado do que pensar sobre a essência das coisas. Por isso é que a discussão em torno da existência ou não de Deus é coisa que parece bem de antigamente. Mas o que é ou o que impulsiona a época da existência? Individualismo, prazer, preocupação com a saúde, preocupação com a aparência, vacuidade, efemeridade, negação de qualquer tipo simbólico de luto... Enfim, as relações, com pessoas ou coisas, se formam e desaparecem de forma rápida, quase indolor. A substituição das coisas ou pessoas é rápida. A dependência de coisas ou pessoas é quase inexiste. Hoje, por exemplo, existem tantas dietas que já nem é possível contá-las com os dedos das mãos e dos pés, e as pessoas vivem passando de uma para outra. A utopia agora é a busca da eterna juventude e da vida longa e saudável. 

 

Parece não haver mais lugar para as velhas utopias: nem políticas, nem sociais, nem econômicas e nem amorosas. Chama a atenção o fato de que, de forma geral, as pessoas estão tão incrustadas em seus casulos, sejam emocionais, profissionais e relacionais, que qualquer preocupação com o coletivo desaparece. Não chama a atenção o fato de pessoas se preocuparem com quantos grãos o pão integral é feito e não se preocuparem com o fato de que existem milhões de pessoas que não tem qualquer tipo de pão para comer??

 

Vivemos uma época fantástica, em que muitas coisas foram revistas, por exemplo no que diz respeito ao papel da mulher na sociedade, elas que deixaram de ser coadjuvantes tanto em termos profissionais como emocionais. No entanto, o que preocupa muito no atual estado das coisas é que parece que o que liga as pessoas às outras e às coisas é a contínua insatisfação. A sociedade produziu mecanismos, talvez inéditos, de criar carências que são supridas pelo mercado, mas que uma vez supridas, voltam a se tornar carências com a inovação tecnológica rápida. Penso que esta lógica afetou, mais profundamente do que na aparência, as relações humanas porque afetou e vem afetando os seres humanos, demasiado humanos...

 

Obs: Esta é uma versão revisada e atualizada de um texto originalmente publicado no blog: devaneioseoutrasreflexões.blogspot.com.

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